Ressaca Literária.
Eu não consigo ler.
Sim, eu consigo fazer com que as palavras saiam da folha de papel e que meu cérebro identifique o que elas querem significar.
Há dois anos,- talvez mais, vou dizer dois para arredondar- estou em um looping de começar a leitura de ficção e literatura, me sentir culpada por não estar estudando e não continuar a leitura. Porém, até mesmo a leitura de livros para estudo está arrastada.
Sem ter a obrigação que eu tive por anos de leitura para aula e trabalhos na graduação, eu, simplesmente, não consigo focar em uma leitura, e isso é extremamente frustrante.
Mesmo antes da pandemia, o senso se urgência e de ser produtiva enquanto eu não conseguia um emprego, me fazia sentir que ler era uma perda de tempo. Que enquanto eu estava ali lendo, talvez um livro de ficção, eu poderia estar lendo algo para minha pós-graduação, algo que me ajudasse a lembrar das coisas da faculdade, algo que fosse produtivo.
Essa fixação em ser produtiva é muito sintomático do capitalismo, e por mais que a gente queira fugir disso as coisas, não funcionam diferente porque você quer, a necessidade te enverga para essa mesma realidade.
E isso é muito ruim, eu, que já cheguei a ler mais de 90 livros em ano, venho decrescendo a minha meta anualmente. Ler 2 livros por mês, em média, vai ser uma vitória em 2021.
E eu acho isso triste. Quando eu consigo engatar e ler por mais de 10 minutos pelo menos, eu penso: "Nossa, por que eu não leio mais?" Se passam mais 2 minutos e eu me sinto na obrigação de ler algo que agregue a minha vida profissional.
Sendo que eu sou formada em Literatura. E meu público, digo, alunos são adolescentes. Então, a leitura de ficção faz parte da minha formação profissional, essa culpa toda que eu sinto nem faz sentido.
O que eu considero uma quantidade boa de livros por ano seria 52 livros,. Um livro por semana, é ok!. Cinquenta, talvez, para arredondar!
Para exemplificar vou trazer dados mais completos. De acordo com o meu Skoob:
O ano que mais li foi o ano de 2014, no qual eu fiz 92 leituras, entre livros e HQ's. Os anos seguintes seguem em uma média alta, que eu considero bem boas: em 2015, 2016, 2017 e 2018 eu li, respectivamente: 76, 53, 65 e 72 livros
Então, em 2019, eu termino minha faculdade, a obrigação da leitura termina e com a desobrigação, o desemprego e o governo absurdo que começa esse ano que só traz tristeza e estresse os números começam a decrescer vertiginosamente: em 2019 eu li um total de 35 livros, em 2020 li 17 livros.
Lembrando que eu leio de várias maneiras esses livros: livros físicos, ebooks e audiobooks. E mesmo assim, estou nessa ladeira rumo a média nacional, mais uma coisa que me entristece.
E porque eu estou descrevendo todas essas metas conquistas e médias de leitura? Para que eu possa refletir o que está acontecendo comigo de cada vez mais não ler, me sentir culpada por ler, e quando não leio me sinto culpada por não ler.
Entretanto, meu tempo em telas aumentou muito, com os serviços de streaming e redes sociais que trazem um contentamento imediado de conclusão, assim como a sensação que os podcasts que eu ouço, que trazem esse sentimento de realização quando se termina de ouvir, como ver um episódio de uma série. Prejudicando mais uma vez o tempo e o foco que eu poderia utilizar para a leitura enquanto estou viciando o meu cérebro em contentameno rápido.
Então, no fim desses pensamento sobre a leitora culpada que me tornei, me comprometo a, pelo menos, ler uma página por dia! É ridículo? É! Mas é uma mini-meta que pode me ajudar a manter a constância.
Livros de literatura me aguardam mofando em casa, fora meu Kindle que está abarrotado de e-books.
Qualquer movimento em direção ao objetivo final é louvável.
Menos culpa e mais leitura!
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