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Conceitos da linguística do século XX - Glossário

Produção Textual , Análise e Gêneros e Compreensão - Luiz Antônio Marcuschi

Página 45 Anotações do estudo

Termos técnicos que poderiam contribuir para a construção de um pequeno glossário que aparecem e marcam o percurso dos estudos linguísticos no século XX, tais como:

Glossário

Ato de fala - A expressão atos de fala designa o poder da linguagem para produzir ações. A interpretação de enunciados, tendo por base variáveis como o contexto cultural e social em que estes se inserem, não se limita apenas ao teor descritivo dos mesmos. Em situações comunicacionais, os principais intervenientes são os interlocutores e cada um deles tem uma bagagem cultural e social, de tal forma que, a determinada altura, os teóricos da linguagem descobriram a impossibilidade de dissociá-la do seu objeto de estudo.
Todos nós comunicamos e utilizamos frases e/ou expressões para dar a entender as nossas realidades, ou seja, produzimos atos de fala. Mas não o fazemos de uma forma meramente descritiva. Nos nossos relacionamentos interpessoais, a linguagem atinge um certo poder que se traduz em ações, que têm impacto, ou não, no nosso interlocutor. 


Cognição -  Cognição é a capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento, com base em um conjunto de habilidades mentais e/ou cerebrais como a percepção, a atenção, a associação, a imaginação, o juízo, o raciocínio e a memória.
Essas informações a serem processadas estão disponíveis no meio em que vivemos.
De modo geral, podemos dizer que a cognição humana é a interpretação que o cérebro faz de todas as informações captadas pelos cinco sentidos, e a conversão dessa interpretação para a nossa forma interna de ser.


Competência linguística - Competência linguística é um termo que denomina a capacidade do usuário da língua de produzir e entender um número infinito de sequências linguísticas significativas, que são denominadas sentenças, frases ou enunciados, a partir de um número finito de regras e estruturas.  Segundo alguns, é o conjunto de normas ou regras que temos em nossa mente (internalizadas, portanto) que nos permite emitir e receber frases, e julgar se elas são ou não bem formadas ou se podem ou não ser consideradas como frases que pertencem à língua.

Desempenho - manifestação da competência dos falantes nativos de uma língua, através de enunciados produzidos espontaneamente e de seu processamento interpretativo.

Dialeto - conjunto de marcas linguísticas de natureza semântico-lexical, morfossintática e fonético-morfológica, restrito a uma comunidade inserida numa comunidade maior de usuários da mesma língua.

Discurso - Acontecimento estrutural manifestado em comportamento linguístico e não linguístico. Do ponto de vista da pragmática, discurso refere o modo como os significados são atribuídos e trocados por interlocutores em contextos reais. Num discurso particular, os enunciados são compreendidos por meio de referência a um conjunto particular de ideias, valores ou convenções que existem fora das palavras trocadas. Esta noção opõe-se à noção de texto que é encarado como pertencente ao domínio do sistema linguístico e como produto, enquanto discurso pertence ao domínio da linguagem em uso e é visto como processo.

Estilo - cada um dos graus de formalidade de um discurso escrito ou falado; registro.

Estrutura - No âmbito dos estudos estruturalistas das instituições e do comportamento humano, este termo é definido como a principal característica abstrata de um sistema semiótico. A língua, por exemplo, é vista como uma estrutura no sentido em que é uma rede de unidades inter-relacionadas, podendo especificar-se o significado das partes apenas com referência ao todo. De um modo mais específico, pode aplicar-se o termo a uma secção isolada dessa rede de unidades.

Fonética - Ciência que estuda as características físicas, articulatórias e perceptivas da produção e percepção dos sons da fala, e fornece métodos para a sua descrição e classificação. 
A fonética divide-se em três grandes ramos:
1) fonética articulatória; 
2) fonética acústica; 
3) fonética auditiva ou perceptiva.


Fonologia - Ramo da linguística que estuda os sistemas sonoros das línguas. Da variedade de sons que o aparelho vocal humano pode produzir, e que é estudado pela fonética, só um número relativamente pequeno é usado distintivamente em cada língua. Os sons estão organizados num sistema de contrastes, analisado em termos de fonemas, segmentos, traços distintivos ou quaisquer outras unidades fonológicas de acordo com a teoria usada.


Forma - Na linguística saussureana, forma opõe-se a substância e designa toda a organização linguística, ou estrutura da fala ou da escrita por oposição à realização física da língua como substância fônica ou gráfica. É neste sentido que esse termo é utilizado na tradição do estruturalismo europeu, embora com algumas variantes. Por outro lado, Halliday distingue o nível da "forma" do da "substância e do "contexto" e considera que "forma" é a organização da substância em acontecimentos com significado. Neste sentido fala de significado formal que se distingue de significado contextual, embora este dependa daquele.

Função - Termo que refere o objetivo com que é usado um enunciado ou uma unidade da língua. Pode ainda utilizar-se este termo para designar a relação entre a forma linguística e outras partes do sistema da língua em que é usada (p. ex., o sintagma nominal pode ter a função de sujeito, objecto, etc.). Em fonologia, o acento pode exercer funções de contraste (contrastiva) ou de expressão dos sentimentos do locutor (expressiva). No estudo dos enunciados podem determinar- se igualmente funções denominadas "funções da linguagem", em que se distinguem a apelativa, a expressiva, a fática, a metalinguística, a poética e a referencial. O estudo destas funções foi inicialmente proposto por Buhler e desenvolvido nos anos 50 por Jakobson.


Interação - O que subjaz à produção de um enunciado por um locutor particular numa situação de comunicação. A intenção comunicativa determina em parte o significado do enunciado produzido e, sendo reconhecida pelo alocutário, determina também a sua compreensão. Esta noção está intimamente ligada às noções de força ilocutória, princípio de cooperação, máximas conversacionais, etc.


Léxico - Em gramática generativa o termo designa a componente da gramática que contém a especificação abstrata morfofonológica de cada item lexical e os seus traços sintáticos, incluindo os traços categoriais e os contextuais.


Língua Padrão - A língua padrão formal atende todas as exigências das normas cultas, ortografia, gramática e outros aspectos. Essa linguagem segue regras rígidas no âmbito da escrita e da comunicação verbal, principalmente em ambientes que exigem mais formalidade.

Morfologia - Disciplina da linguística que descreve e analisa a estrutura interna das palavras e os mecanismos de formação de palavras.


Pragmática - Disciplina que estuda os princípios da linguagem em situação de uso, na qual o locutor, o alocutário e o contexto são as categorias principais que determinam a interpretação linguística. Para a pragmática o significado das palavras é uma função da ação ou ações que com elas se praticam ou podem praticar, tendo em consideração o modo como as influências contextuais determinam o modo de agir linguístico. Muitas das recentes discussões na área da pragmática derivam da necessidade de existência de uma teoria pragmática que tenha o seu lugar ao lado da sintaxe, da semântica e da fonologia numa teoria geral da linguagem.

Registro - variante linguística condicionada pelo grau de formalidade existente na situação em que se dá o ato de fala, ou da finalidade, no ato da escrita; estilo, linguagem.

Signo - Na terminologia de Ferdinand de Saussure, o signo linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, a imagem acústica e o conceito, ou mais precisamente o significante e o significado, que se encontram ligadas e se postulam uma à outra. A sua principal característica é a arbitrariedade, i.e., não há nada no signo que determine a ligação do significante ao significado, essa ligação é imotivada. Para além disso, a sua existência é condicionada pela dos outros signos com os quais estabelece uma relação de interdependência ao nível dos seus dois elementos constituintes.

Sintaxe - Área da linguística que estuda as regras, as condições e os princípios subjacentes à organização estrutural dos constituintes das frase, ou seja, o estudo da ordem dos constituintes das frases.

Variação - Fenômeno pelo qual uma determinada língua nunca é, numa dada época, lugar e grupo social, igual ao que era numa outra época, num outro lugar e num outro grupo social. A variação diacrônica é o objecto de estudo da gramática e da linguística históricas, a variação no espaço é objecto de estudo da geografia linguística e da dialectologia. A sociolinguística ocupa-se da variação social.

Variedade Linguística - Expressão linguística sistematicamente controlada por variáveis situacionais. Por vezes, a diferenciação situacional no âmbito da língua pode ser facilmente estabelecida, como acontece com as variedades regionais (português Europeu vs português do Brasil). Noutros casos, a distinção é mais difícil de estabelecer, como acontece com variedades sociais e variedades ocupacionais ou profissionais, sobretudo porque a sua definição envolve a interseção de diversas variáveis (sexo, idade, ocupação, etc.). O termo variedade pode englobar os conceitos de dialecto,registo e falar, havendo também autores que o utilizam num sentido mais restrito de diferenciação situacional dentro de um determinado dialecto, como por exemplo gírias profissionais.


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